A LINGUAGEM UNIVERSAL DE UMA IMAGEM

Ainda nem havia passado pela banca de revistas, sequer estava pensando nas tragédias deste mundo, quando me deparei com o povo ávido a ser o primeiro a proclamar à República Federativa do Brasil e aos países que mais quisessem ler e ouvir: Revista Época e Veja com a mesma foto de capa! Logicamente, pautadas no mesmo assunto: a tragédia no Haiti.

Época e Veja. Oras. Dois selos distintos. Uma da Editora Globo, outra do Grupo Abril. Na sequência, as mais diversas teorias – das hilárias às conspiratórias. “Isso é coisa do estagiário aquele do BBB 10 que errou a vinheta de abertura”, “estagiário que nada! Certeza que tinha um espião que entregou ao outro selo o que a concorrência iria publicar”, “a questão é que não tinha tantas fotos do Haiti, amigo” ou então, a velha “ideia chupada” - como apontariam os publicitários. Alguns diziam que nem era a mesma foto, apenas usaram a mesma pessoa. O que poderia ser justificado pela diferença de ângulo e cor e luz e essas coisas todas que os fotógrafos e manipuladores (no melhor sentido do termo) de imagem entendem e podem responder melhor do que eu a esses que defendem tais teorias.

Eu ainda não li nem uma, nem outra. E juro que procurei, mas não encontrei o nome do fotógrafo da foto das capas. Até onde sei, aquela mão que buscava a vida e a liberdade por entre escombros já havia sido veiculada no Jornal de Montréal. Ou seja, ninguém pagou por exclusividade.

E quer saber o que eu acho de tudo isso? Ainda assim, vou falar. Nem plágio, nem espião, nem estagiário do BBB que nessa hora deve até estar desempregado, coitado. Pode parecer ingenuidade achar que o que alguns tratam como sensacionalismo, não tenha intrínseco interesses megalo monetários. Às favas tudo que vai contra o simbolismo que essa imagem representa ao mundo agora. E para sempre.

Uma certeza eu tenho comigo: o mais letrado em Semiótica ao mais desfavorecido em estudos pode ter a mesma sensação e entendimento ao se deparar com a foto. Independente do repertório e de onde vivem. Nem mesmo é preciso saber onde fica o Haiti. A resposta é tão mais simples e está no alcance do sentir.

A mão que buscava alcançar a vida e a liberdade deveria estar estampada em todas as capas de jornais e revistas deste mundo. Sentimentos e pesar são universais. E a gente aqui, com todo o tempo do mundo para falar em capas, jornais e revistas.

21 comentários:

  1. Antagônica Gabi.
    Muito bom.

    ResponderExcluir
  2. Anônimo10:37

    Bravo.

    ResponderExcluir
  3. De fato, uma fotografia chocante aquela. Mais chocante é a verdade nua e crua que não conseguimos mensurar vendo fotos, lendo textos, ouvindo e vendo pela televisão... Essa verdade que cheira a cimento, sangue; onde se ouvem gritos, choros de crianças; onde se sabe que a morte espreita, que o tempo urge, que há gente viva sobre os escombros... Vamos correr, vamos mandar equipes! Tem de ser rápido! Já faz 1 semana! A gente ali de baixo, esperando, esperando...

    Ah, Gabriela... meu coração de pai fica tão apertado ao ver aquelas crianças negras, que poderiam ser a minha filha! Algumas parecem com ela!

    bjs pra vc
    Cesar

    ResponderExcluir
  4. Anônimo14:57

    Parabéns, Gabi.
    Sempre bom ler por aqui. Sempre.

    ResponderExcluir
  5. adorei o seu texto.

    quando vi as revistas na banca imaginei em escrever algo e tal, mas desencanei depois, e agora lendo tudo aqui vi que pensaram parecido comigo, eheheh só que melhor, ehehehehe
    bjs

    ResponderExcluir
  6. haitis ..ai de nos.

    ResponderExcluir
  7. Otima cronica. Eu, que diariamente paro em frente a banco do meu trabaljo, não havia reparado nas duas capas.
    Quando o desleixo humano junta-se com a ira da natureza, só pode resultar nisso aí mesmo.
    Beijos!

    ResponderExcluir
  8. Nossa, fantástico... Vc escreve muito bem.. Seguir seu blog é um dever! Adorei!
    Bjs

    ResponderExcluir
  9. você escreve perfeitamente! PARABÉNS! já estamos lhe seguindo =D

    ResponderExcluir
  10. Soterrai-me Tisunami Maldito!
    Gostei muito do seu blog e texto.
    BEIJÃO

    ResponderExcluir
  11. Belo ponto de vista.
    Espero uma visita no meu ponto, quando puder.
    inté

    ResponderExcluir
  12. Adorei seu blog...vc deve ser uma ótima publicitária...

    beijos!

    ResponderExcluir
  13. Belo texto. Achei essas capas extremamente fortes, mas não dá pra mascarar uma realidade como aquela. Excelente blog, abraços!

    ResponderExcluir
  14. Achei-te pelo orkut, na comunidade de blogueiros, e, gostei muito do que li aqui! Este texto em especial é muito bom, mostra uma análise que nos faz pensar profundamente sobre a questão...

    Abraço! Sigo-te

    ResponderExcluir
  15. Parabéns pelo blog!! Muito Bom!!
    Beijoo

    ResponderExcluir
  16. Gostei do seu blog
    Estou seguindo agora

    Abraços e sucesso a todos os blogueiros

    http://superblogueiros.blogspot.com
    (Divulgação grátis para blog)

    ResponderExcluir
  17. Anônimo00:12

    TESTE! (:

    ResponderExcluir
  18. Excelente texto , perfeitamente escrito : muito inteligente !
    abração guria e sucesso eu nem preciso desejar...

    ResponderExcluir
  19. SENSACULAR ! Amei tudinho que escreveste ,no final as capas de ÉPOCA E VEJA , cada vez a admiro mais .
    sobra talento em vc .
    parabas e bjin !

    ResponderExcluir
  20. Parabéns pela crônica ,gostei muito
    pq é um dos muitos belos textos que só vc escreve com muito estilo.
    Beijoo !

    ResponderExcluir
  21. "Às favas tudo que vai contra o simbolismo que essa imagem representa ao mundo agora. E para sempre".

    Gostei dessa frase. Porque a imagem em questão apresenta uma ambiguidade. A imagem, ela mesma, é o reflexo do mundo em que vivemos, e ao mesmo tempo concordo com a opinião de que a função das imagens hoje em dia é a de sobrepor-se à linguagem falada, explicativa. As pessoas precisam delas para ter certeza de que as coisas acontecem, mas ela é ao mesmo tempo insuficiente...

    Enfim, gostei. Tu utiliza bem a natureza da crônica para um sentido informativo. E, sendo em tom de passagem e rápido comentário, como é o da crônica, assume uma fugacidade um tantinho literária...

    Parabéns.

    ResponderExcluir

Obrigada pelo seu comentário.

 
A Cronista © 2013 | Gabriela Gomes. Todos os direitos reservados.