CARTA - O ANEL



Beto, querido

Não sou mulher de um homem só. Sempre busquei no perfume de outras bocas e nos fluidos de outros corpos respostas que me explicassem. Você sabe, nunca escondi a verdade.

Não aposte todas suas fichas em mim e nem queira pagar para ver quais cartas trago nas mãos. Eu sou o mais puro blefe, querido. O coringa que antecede a batida.

Entenda: não quero compromisso. Ser livre é a minha lei. Não queira burlar as regras, não as minhas. Não busco um homem para chamar de meu, e apesar de já ter feito o papel de boa moça para alguns, me falta vocação – não tenho mais estômago e o talento é mínimo.

Até entendo sua expectativa, eu também já senti coisa parecida. Mas sinto estragar seus planos, não serei sua exclusividade. Esqueça a idéia de me apresentar aos amigos, de marcar programas em família. É como pedir para que eu vá embora para sempre. No mais, Domingos são sagrados. Dia de jejuar para purificar-me das farras, de curtir os efeitos que a ausência de outro corpo causa ao meu.

Você sabe dos homens que me bajulam. Mas confesso que nunca antes, nenhum outro me propôs compromisso. Nunca um elo que não o sexual. Sempre viram em mim o descompromisso do dia seguinte. Você sabe que essas aventuras me atraem, não vou ser hipócrita e dizer que são todos uns aproveitadores. Sou conivente com o crime. Mas o seu gesto, comparado a todos os demais, me tocou. De verdade. Não pensava mais que pudesse despertar isto em alguém. Desaprendi a lidar com essas coisas. Sentimentos, você sabe do que falo.

O anel é maravilhoso e qualquer outra mulher ficaria encantada, mas não poderei aceitá-lo. Não estou preparada para me prender e pode ser que nunca esteja. Guarde a jóia para o verdadeiro amor. Dizem que sabemos quando ele chega pra valer.

Porém, quando sentir saudades me procure. E prometa continuar sendo aquele louco que conheci - que só pensava em sexo e desejava o descompromisso do dia seguinte. Enquanto esse dia não chega, vou ficando com os efeitos que a ausência do seu corpo causa ao meu. Como se todo dia fosse Domingo.

Beijos,

Ana.

10 comentários:

  1. Achei o blog numa comunidade do orkut, e adorei.. vou visitar sempre agora..! rs

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  2. Uau. Muito bom.
    Honesto e sincero.
    Constrasta violentamente com o texto passado. Parabéns.

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  3. adorei seu blog, parabens vou deixar meu blog aqui para que vc possa ver e dar sua opinião tambem, criticas e sugestões serão bem vindas

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  4. Quanta honestidade...
    as pessoas deveriam ser assim: sempre honestas=)
    adorei o blog=)

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  5. Gabriela, postei o seu texto hoje.
    Daí vim aqui ver se já tinha algo de novo e então me deparo com outra crônica igualmente bela. Cada um tem mesmo o seu próprio talento, e, como cronista, você é realmente muito boa.

    Fiquei imaginando a cara do Beto quando leu a carta. Tadinho, deve ter ficado arrasado. A Ana devia gostar dele um pouquinho. Acho que ela tem medo de compromisso.

    Beijos

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  6. Se me permite uns palavrões, puta que pariu! Nunca vi uma carta tão escrota e tão bem escrita!
    E com requintes de crueldade gramatical...


    ¡Adiós!

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  7. Gostei muito do texto, das palavras usadas e do enredo. Crônicas sempre foram as minhas leituras favoritas.

    Pobre Beto, um iludido!

    Parabéns,

    um beijo!

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  8. de um blog a outro acabei vindo parar aqui....adorei!!!

    virei mais vezes...

    bjim

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  9. as vezes há de se truncar com a honstidade a realidade alheia... beijo minha amiga!

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  10. Coitado do Beto!
    Deve ser da mesma linhagem que eu... Coitados dos românticos!
    hehehehehe

    Abraço

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Obrigada pelo seu comentário.

 
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