DAS COISAS QUE NÃO FORAM

De tudo que pelo acaso ou pela falta dele não aconteceu, ficou a curiosidade do que poderia vir a ser. Do beijo que ficou guardado apenas na vontade. Da palavra que não se fez e não tomou direção alguma no vento, sem chance de nele, se desfazer. Do pensamento que largou mão da lembrança. Ficou a vontade de ter sido, vivido, dito e lembrado.

Tantas promessas não feitas, canções não ouvidas, poesias não declamadas e versos não dedicados. Quanta vida poderia ter sido tão mais vida.

O que não foi feito por acreditar-se inadequado. O que não foi vestido por julgar-se démodé. O que foi deixado para trás e será eternamente confidenciado ao travesseiro. Aquele sonho que virou, de repente, uma grande bobagem. A bagagem que se abriu e ficou perdida em meio ao asfalto. O filme que desejou assistir mas seu pudor impediu. A loucura que jamais ousou cometer.

Retomo. Há coisas na vida que nunca serão. Nunca você e ela enquanto ela com ele. Jamais ela com ele enquanto você com ela. Por mais que tente transgredir a lei e ordem da vida, jamais será pássaro. Pode ser livre. Até mais livre do que um, mas convencionalmente pássaro, jamais. Pode ser que esteja onde quer, com quem não deseja. E talvez, com quem deseja, onde jamais quis estar.

Da mesma forma que na vida as coisas são, elas podem nunca vir a ser. Como também, deixar de ser. As que um dia foram são abençoadas e festejadas por simplesmente terem acontecido. Mas as que nunca serão - essas sim causam um profundo desconforto. Uma vontade de correr em meio a tudo ainda não feito e fazer a hora. E agora.

Sendo o último, não será o primeiro – a não ser que a ordem seja invertida e se passe a contar do fim para o começo.

São tantas as coisas que não foram que chega a causar uma saudade absurda ao pensar que poderiam ter sido.

Aí entramos nós, autoridades máximas, a escolher o melhor final para a própria história. Escolher o que cabe ser vivido. Do que não se escolhe, se aceita a graça da surpresa. Boa ou não, deixa sempre qualquer coisa que mesmo que aconteça, hora ou outra, volta a inexistir, ou por assim dizer: passa.


Volto depois do Carnaval. Seja como for, um bem bom pra vocês!

14 comentários:

  1. Anônimo13:38

    E eu sinto uma p#%a saudade dessas coisas que poderiam ter sido mas não foram, o que anda acontecendo demais comigo...

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  2. Eu sou uma saudosista confessa. Morro de saudade do que poderia ter sido e não foi, do que nunca poderia ter sido, mas que ainda assim foi desejado.
    Saudaaaade...

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  3. Ler isso de certa forma de trouxe conforto. È que ás vezes me cobro tanto por alguma coisa que deixei de fazer, de tentar, que me esqueço do acaso. Me esqueço que talvez não aconteceu não por mim nem por terceiros. Só não tinha que ser. Isso da um alivio enorme, tira um guarda-roupa das costas...

    Bem Adorei mesmo o texto!
    Bom carnaval pra ti!
    bjo

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  4. Vi uma frase num filme estes dias... e nem sei qual foi... mas destas que são uma caminhão de melância na cabeça... "Não se perde tempo na vida... se perde vida quando se perde tempo..."... pois é...
    Beijos Mila

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  5. Anônimo17:59

    Eu entendo o que você quer dizer.
    Aliás, não só entendo como sinto. Enquanto lia tive naúzes de arrependimento, veio em minha mente tudo que eu deixei pra trás. É claro, tento me conformar com o que não poderia ter sido mesmo, com aquilo que não pôde ser porque eu estava ocupado demais sendo outra coisa. Mas o que eu podia ter vivivo, parece uma agulha a espetar as minhas orelhas sempre, me lembrando o quanto sou humano, me lembrando o quanto sou errante!

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  6. A vida tem dessas incompletudes. Coisas que nunca ocorrem, outras que nunca ocorreriam, outras que ninguém imaginava que ocorreriam. Aí, muita coisa vai acontecendo, e muita coisa vai se perdendo. Dentre as que se perdem, há os sonhos que não se realizam, e os projetos iniciados, mas abortados por uma ou outra constrição das forças do Universo, ou das próprias pessoas. Acho que não rolar é melhor do que algo que começou prometendo e ficou no quase.

    P.S. Um bom carnaval.

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  7. belíssimo texto...
    um resumo seria: a voilta dos que não foram, hehehehe...
    infelizmente tô sem capital pra fazer o módulo 2, mas quem sabe... até lá posso ganahr na mega, hihihihi...
    bjus!

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  8. o maior pecado virou a omissão de pretensões impensadas... só acarreta arrependimento e sabers nunca provados... malditas escolhas nos afagam e nos punem...

    beijo menina!

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  9. Um óptimo fim de semana, e um Carnaval cheio de folia e riso.

    Beijos.
    (Girassol)

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  10. Anônimo02:48

    ADOREI!

    O que dói mesmo é o que não foi, né?

    Bjo

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  11. Anônimo15:04

    É verdade. E no fundo, todo mundo é um roteirista frustado que brinca com sua própria vida. A gente imagina o cenário, as pessoas e milhares de hipóteses. O problema é que na vida não conseguimos matar o bandido, acordar com o cabelo no lugar certo e colocar um "the end" em cada capítulo. Então a gente imagina.

    Gosto muito dos seus textos menina, bjos

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  12. já um um pouco saudosista.

    sabe, aacho que pensar nas possibilidades do que poderia acontecer é sofrer no incerto.


    um beijo.

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  13. sempre resta a curiosidade

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  14. Anônimo23:34

    Adorei seu blog!
    Parabéns.
    beijos

    obs. Se der passa lá no meu!

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Obrigada pelo seu comentário.

 
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