Tenho certo fascínio em conhecer pessoas e seus mundos. De observá-las e imaginar como levam a própria vida.
Adoro brincar de ler as entrelinhas das histórias que contam – mesmo que não exista muito a ser dito ali. De vislumbrar o que sonham, saber quais os seus delírios, esperanças, desassossegos, glórias, perturbações. Tomar conhecimento do que esperam da vida. E se são mesmo de esperar ou de fazer acontecer.
Gosto de observar os transeuntes em zona urbana. De analisar a correria e o caos aos quais se submetem para vencer o dia. Anseio mais pelo desafio proposto do que pela correria em si. Atrai-me a disputa contra o tempo. Aliás, observá-los demanda tempo. E eu dispenso toda pressa para isso.
Alguns dizem que chega a ser voyeurismo. Ok, talvez eu tenha mesma certa inclinação e toda predisposição para isso. Mas é que eu gosto mesmo de gente. De gente e suas histórias. Pitorescas, graciosas, trágicas. Independente do teor, são as histórias que enchem a vida de sonho e realidade.
À noite, me pego fitando as janelas miúdas dos arranha-céus com suas luzes acesas. Observo a movimentação, as cores que saltam das molduras das vidraças – que se assemelham a olhos gigantes a também me observar.
E sigo contemplando o todo e a particularidade da diversidade, até ter a atenção captada por algum novo detalhe. Distraio-me fazendo perguntas. Quem será que mora ali? Como vive? Não me preocupo em respondê-las, deixo a imaginação tomar conta e seguir seu curso, sem urgência.
Só não podia antever, da última vez que me peguei correndo os olhos pelas janelas vizinhas, que não fosse a única ali a ter predileção em espiar a vida alheia. Eu também estivera sendo observada. Não sei dizer por quanto tempo. Nem o que fora exposto. De todos os detalhes que vinha buscando, esqueci que existem outros tantos curiosos assim como eu.