Protesto em prol do Amor

Confira minha coluna de hoje para o MeuBairroPoa. Toda segunda-feira falo sobre relacionamentos. Deixe seu comentário no topo do post. Boa leitura! ;)



 Cada um defende suas causas e levanta suas próprias bandeiras. Qual é a sua luta?

De cara lavada, voz embargada e peito aberto: eu protesto! Acompanho toda movimentação lá fora e a única revolução que parece existir neste instante é essa aqui dentro de mim. Tenho a imaginação como pátria e a saudade como único endereço. Sou militante solitária de uma causa nobre e estritamente pessoal. Minha bandeira é o amor, meu querer é democrático e o coração, partido.

Eu não trago armas nas mãos e as violências que pratico – se as pratico, são contra mim. Você não verá nenhum gesto truculento e se eu for capaz de gritar alguma palavra de ordem será: vem! Eu sei que talvez não faça qualquer sentido pra você, mas sigo marchando, vestida de branco, protestando em causa própria.

Meu manifesto é em prol do amor e minha reivindicação primeira é por você ter ido embora assim, tão de repente. Por ter virado meu mundo de cabeça pra baixo e após ter feito a mais completa bagunça, instaurado a anarquia e provocado o medo – da perda do amor, da voz, da alegria, da capacidade de amar, e assim, desaparecido da minha história.

Lembra dos domingos que você acordava cedo e saia de fininho da cama pra jogar futebol, deixando minhas pernas na total solidão das suas? Meu protesto é por você não ter repousado por mais tempo seu queixo no meu ombro para sentir o cheiro da minha pele exalando do pescoço, enquanto nos enroscávamos um no outro. Você podia ter ficado um tanto mais ali.

Meu protesto é pelas milhares de toalhas molhadas sobre a cama, as meias jogadas ao chão, que eu reclamava mas acabava juntando enquanto achava graça pensando como todos os homens são iguais – embora eu saiba que não é verdade. Eu já tive muitos caras diferentes e bem melhores que você, mas foi a você que me apeguei. Minha fantasia era que precisaria de mim para que sua vida não se tornasse uma perfeita bagunça. E foi você quem me bagunçou e partiu.

Se existe mais a protestar, protesto pelos beijos não dados em meio às brigas, as fomes que tínhamos um do outro não atendidas, as vezes que jejuamos de nossos corpos mesmo sabendo da voracidade do apetite. Da ausência que provocamos antecipadamente quando ainda estávamos presentes um na vida do outro. Protesto pela espera de um abraço que não voltou a acontecer. E de um amor que depois de anos, se esvaiu.

Minha reivindicação é agora pelo que não somos, pela incapacidade da partilha, da doação. Mesmo que o sentido póstumo seja outro, protesto porque calar seria o maior atentado que cometeria contra mim. E porque meu próprio silêncio já me fez companhia demais nestes últimos tempos – tanto que já conheço a ordem do seu discurso, suas pausas, interjeições, sei com exatidão quando ele me fala mais alto e onde a dor que provoca é mais profunda.

Protesto por não ter tido a chance de me despedir. Quando cheguei em casa suas malas já estavam prontas e seus pés, na rua.  Quem lhe ensinou que tudo bem deixar a companhia de alguém sem fazer com que esta pessoa se sinta melhor? Talvez nunca alguém tenha dito essas coisas na sua presença. E mesmo que instruísse, você só captava o que melhor lhe convinha, não é mesmo? Penso agora que o que você aprendeu nessa vida sobre a alma feminina é muito pouco. E eu ainda não desaprendi você.

Meu protesto é pelo coração que ficou fininho, deixando espaço a sobrar dentro do corpo. Pela minha própria incapacidade de perdoar quem nunca pediu desculpas formais. Sobretudo, pela saudade que restou. E assim sigo, nesta completa desordem, buscando a todo custo encontrar algum progresso. Se hoje me falta amor, que pelo menos, me sobre paz.

Publicado originalmente em: http://migre.me/fa8qr

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