STATUS: RELACIONAMENTO SÉRIO

Nunca pensei que iniciar um novo relacionamento amoroso fosse tão complicado. Não em meio ao frescor e relativa maturidade que meus poucos 28 anos deviam ter me trazido. Não depois de mais de 10 anos de relacionamento estável, tranquilo e relativamente seguro com alguém.

Meu Deus! Quanta dificuldade em recomeçar. Dar restart. Apertar o power. Eu que vivia dizendo que não saberia mais ser solteira, que me perderia todas as noites na solidão da cama, no encontro exclusivo com lençóis e travesseiros. Tendo apenas meu próprio corpo como companhia, ficando com o meio da cama para não ter que decidir por lado algum. Que voltaria a experimentar loucamente o vazio das farras. Experimentar alguns colchões diferentes pra depois implorar pelo meu. Agora me vejo sem saber como é mesmo estar outra vez com alguém. Ou melhor, como faz mesmo para as coisas engrenarem?

Impressionante e um verdadeiro fascínio pensar e perceber como as pessoas são diferentes umas das outras. Assustador também. Tão mais fácil se a história que se encerrou viesse seguida de outra que completasse o tal ciclo do amor – como um todo. Sem a incógnita de ter que se apresentar novamente a alguém. Pular etapas. Tornar a relação madura meio que a fórceps. Ok, dei uma exagerada. Mas juro que conheço quem faça isso. Até porque relação nova pressupõe total frescor na vida e no dia a dia. Pensando bem, melhor aproveitar a chance da reestreia, que é afinal, uma segunda chance. Dá pra retomar o texto e rever figurino antes de ganhar os palcos. Se ganha um tempinho antes das cortinas se abrirem. Só não vai dar tempo de retomar o texto, pois amor requer improviso.

Iniciar um novo relacionamento implica diversas coisas absurdamente deliciosas, mas claro que também outras mais cretinas, cito duas: o medo e a dúvida. Medo do desconhecido, dúvida de saber se é o cara certo – ou pelo menos o cara ideal para o momento. Medo de não resguardar a própria paz, a saúde emocional. Vai saber, tem tanta gente louca por aí e que demora a mostrar as garrinhas. Lobos em pele de cordeiro. Medo de não ter sido racional na escolha e ter se deixado levar apenas pelo sorriso alinhado e o carisma que faria muita mulher ficar curiosa pra saber o que há por trás de tanta gentileza. Tem o medo de ser feita de boba, a dúvida se está mesmo sendo levada a sério. Se está sendo respeitada e, sobretudo, se respeitando. Devaneios de gente que protege o próprio coração e se leva a sério na medida.

É tanta coisa que passa pela cabeça que poderia ser enumerada feito lista para check-in. O voo está prestes a decolar. Você está preparada para embarcar?

Ele parece sincero quando diz que ama? Check.
Apresentou para a família e os amigos? Check.
Inclui você nos programas de sábado à noite? Check.
Ou chama pra ir junto ou recusa convites para farra com os amigos solteiros? Check.

Por mais diferentes que sejam as relações, existem algumas coisas que se repetem. Por mais moderninhos que sejamos ou mais liberal que tentemos levar um relacionamento (monogâmico, no caso), existem coisas que continuam tradicionais – pelo menos enquanto não conhecemos a fundo a outra metade da relação. Se o cara tá mesmo interessado, não vai achar divertido que sua garota saia todo sábado à noite para a balada sem ele – a não ser que ele não esteja preparado para ter parte da sua liberdade podada. Se ela tá mesmo a fim dele, vai querer saber onde esteve para chegar tão tarde em casa numa terça-feira. Ninguém que começa a namorar quer entrar as escuras. É preciso conhecer parte do terreno para depois sim, poder pisar com relativa tranquilidade, com a mesma segurança que adentramos nossos quartos no escuro – sem esbarrar em nenhum item até chegar à cama.

E após sacar que ele realmente está na sua, não fica secando toda mulher que passa como nos tempos de solteiro (pelo menos na sua frente), respeita seus amigos, é educado, faz algumas renúncias para estar com você.... Bem, depois de passado um tempo, que ele se esforçou para estar do seu lado, provou que ama e é isso mesmo que quer, a gente acaba relaxando pra dar um pouco mais de liberdade pro sujeito – afinal, agora estamos mais seguras da relação. Não que antes não confiássemos. Mas uma coisa é confiar num cara sem compromisso selado, outra é confiar no cara que já conhecemos um pouco melhor e com novo status social.

Claro que sempre vai rolar um medinho bobo, um ciúme fora de contexto, uma insegurança – até porque pessoas totalmente seguras não passam de ingênuas. Mas se o parceiro for daqueles que gosta de provocar insegurança para alimentar o próprio ego (um idiota infantil e inseguro), pode virar circo e as coisas avançarem para: um ciúme louco, um escândalo no meio da rua, uma perseguição doentia – sentimentos avessos à saúde. Eu já peguei um da espécie e costuma ser desastroso. Pra dar certo, vai depender do que a relação se alimenta e de quem alimenta a relação. Porque não dá pra antecipar o futuro e saber se vai dar samba ou se a receita do bolo vai desandar. “Relacionamento sério” vai muito além de status de Facebook.

Então antes de ter certeza se quer mesmo deixar mesmo de ser solteira, minha amiga, avalie a maneira que o cara trata você. Se ele muda o comportamento na frente dos outros, se a trata diferente quando está com os amigos. Se pega a sua mão quando estão passeando na rua. Se apresenta você para a família. Se ele se importa em saber como foi o seu dia, em saber como você se sente, inclusive em relação a ele. Mais do que saber se você está feliz, se esforçar para isso. Que respeite seus defeitos sem cutucar as feridas. Que saiba citar todos os seus pontos fracos, mas que tenha a decência de não ficar jogando eles na sua cara durante cada briga. Que não permita que a sinceridade seja maior do que a própria educação. E que ceda de vez em quando. Que a deixe tranquila e segura ao estar perto. E mais tranquila e segura ainda, quando estiver longe. E que se for muito chegado a joguinhos, seja futebol 7 ou de botão. Que esteja com você por vontade e escolha própria. E que entenda que a vida de solteiro cabe, a partir de agora, aos amigos solteiros dele. Não adianta encontrar um cara que queira apenas protegê-la, sem ter a mínima vontade e intenção de proteger a relação - porque no fim, acaba um se protegendo do outro. 

2 comentários:

  1. Acabei de conhecer seu blog, e adorei!!!
    E, gostei muito desse texto...é bom quando temos algum do nosso lado, que podemos contar pra tudo e qualquer cooisa...

    Bjo!!!

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    1. Que bom, Bia! Obrigada. Seja bem-vinda sempre. Beijos.

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Obrigada pelo seu comentário.

 
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