Não é o caso de fazer apologia ao ócio e à inércia burra. Tampouco discernir em quais momentos fazer nada é o melhor a se fazer.
Não é o caso de deixar de se importar. É pelo contrário, se importar e utilizar o tempo que for preciso para isso.
Não é o caso de não fazer investimentos. É fazê-los calculando os riscos: considerando, preferencialmente, os mais prováveis e reais. Vale otimismo (comedido). Vale optar por si.
Não é o caso de assistir a vida passar e esquecer de acontecer com ela. Mesmo debruçado na janela vendo o trem que passa, você vai passando com ele. Você é o próprio acontecimento, mesmo que não reconheça.
Não é o caso de decidir sobre perdas e ganhos. É ter certeza de que um sempre vem acompanhado do outro. É saber usar isso a seu favor.
O caso é que prefiro o otimismo pretensioso de acreditar que ainda tenho o dia de amanhã e os que se seguem, a ter que viver tudo o que me é permitido em apenas um dia. Não é essa a euforia que eu quero pra mim. A euforia vive na ansiedade e se isso for constante, prefiro matá-la de tédio.
O caso é ouvir e acreditar menos no que dizem, e ouvir mais o que se cala.
O caso é que fazer nada ou pouco é ainda assim, fazer alguma coisa.
Não me venda receitas de felicidade instantânea. Não me ensine a não perder tempo. Sempre ganha alguma coisa quem perde. Sempre perde alguma coisa quem ganha. E eu ganho a mim até mesmo ao perder.
Não caio mais nessa conversa fiada. Aliás, gosto mesmo é de perder algum tempo me ganhando. O tempo já é corrido. Adianto o relógio só se for pra curtir a sensação de ter mais tempo. Não me apresse. Não se apresse.
Sábado de manhã, chuva lá fora, frio do caramba – me deixa quietinha trocando um léro com o travesseiro e o cobertor. Festinha pegada e eu atirada no sofá assistindo a um filminho, me deixa sossegada com as legendas e figurinhas. Passeata a favor da paz e eu querendo apenas a paz da minha grama: Favor não pisar. Livro bom e eu com todo o tempo pra histórias.
Viver como se fosse a última vez tem cara de foto montada com risinho faceiro. Daqueles que logo se desfazem pela pressa de acontecer outra vez, ficando sempre pela metade.
Não quero a ânsia da última vez. Se me foi dada licença para viver, que seja ao meu modo. Escolho a tranquilidade do que se (re)inicia.
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LICENÇA PARA VIVER (republicada a pedidos)
Gabriela Gomes
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terça-feira
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Tá explicado por que pediram.
ResponderExcluirMassa.
Acho que eu lembro de ter lido esse texto. É realmente ótimo, merecia mesmo ser republicado.
ResponderExcluir"O caso é que prefiro o otimismo pretensioso de acreditar que ainda tenho o dia de amanhã e os que se seguem, a ter que viver tudo o que me é permitido em apenas um dia. Não é essa a euforia que eu quero pra mim. A euforia vive na ansiedade e se isso for constante, prefiro matá-la de tédio."
Um dos meus trechos preferidos, e algo me diz que eu fiz esse mesmo comentário da outra vez...
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