Seis da tarde. O moleque cata a bola do canto da sala e com ela debaixo do braço corre para o campinho. Dono da bola sempre começa escolhendo. Ganha o direito de escalar o time inteiro:
- Tu pra cá… Tu… Ele e cês dois.
Até abrir o placar o guri vai ter suado a camisa, trombado em três ou quatro, chutado a grama e afoito em não deixar o time tomar gol, cavado algumas faltas. O placar de uma pelada nem sempre é justo. Se a própria vida não é, por que um mero joguinho seria?
Casa de boneca, comecinho de tarde. A menina coloca suas Barbies a brincar. Ensaia diálogos entre as bonecas, pergunta do tempo, do emprego e dos filhos. Troca as roupinhas e volta a ficar indecisa: muda sapato, brinco, bolsa, colar – até se enjoar. Essa história de final sempre igual, cansa. Desfaz a produção das dolls e com um sorriso no rosto, escolhe uma para dormir nua na cama com o Ken. Ela nem sabe, mas é quase isso que a espera na vida adulta.
Década de oitenta. Jogo Vai-e-vem.
Regras: Dois jogadores seguram duas argolas em extremidades opostas de uma mesma corda. Com força e precisão, devem abrir os braços para lançá-la deslizando até o adversário. Pra lá e pra cá. Vai-e-vem, vai e volta. Às vezes, acontece de faltar fôlego e a bola parar no meio do caminho. Não vai, nem vem. Outras, a corda enreda igual rede de vôlei guardada às pressas.
Sobe e desce, pula-pula. Acerta helicópteros e navios, coloca gasolina, fica de olho no score. Envido. Real Envido. Flor. Embaralha aí pra gente. Loiro, narigudo, sem bigode e com chapéu. Compro terreno em Ipanema, vendo Copacabana. Pogobol. River Raid. Truco. Cara a Cara. Jogo da Vida. Tua vez de girar a roleta. Chega. Tá tarde e é preciso dormir.
Eu desconfio que, no final, a vida seja uma grande brincadeira.