A NOSSA MÚSICA

Vai lá. Coragem, menina! Espere o cair da noite para servir-se da sua bebida favorita, ajeitar-se confortavelmente no sofá e pôr para tocar aquele CD com as músicas que embalaram o romance de vocês, romance esse que fora reduzido a pó e que hoje só restam as fotos, as lembranças doces, amargas e claro, as músicas. Sim, mesmo em épocas de iPod, todo mundo que um dia amou já gravou uma trilha em CD. 

Apague as luzes para tornar o clima mais intimista – afinal, é você com você mesma. É você e a sua dor. Quem sabe um abajur para que não se perca em completa escuridão, ou deixar as luzes da cidade que dorme invadirem o ambiente pela janela?

Uma voz rouca começa a cantar "I'm so in love with you / Whatever you want to do / It’s alright with me..." e você fecha os olhos, respira fundo, como quem conta regressivamente para poder voltar a soltar o ar sem fraquejar. "...'Cause you make me feel so brand new / And I want to spend my life with you…" e é dado um gole daqueles grandes no vinho enquanto você paralisa.

A voz irritantemente sensual insiste "… Ain’t the same since, baby, since we’ve been together / Ooh, loving you forever…" e você lamenta o quanto o 'para sempre' foi breve. Aliás, o mais breve de todos que conheceu. "... Is what I need / let me be the one you come running to / I’ll never be untrue..." todos os poros e células do seu corpo vibram ao ritmo do som. Você já perdeu metade dos sentidos, embora ainda sinta um tanto. E dói por inteira.

É então chegado o ápice, a proposta irrecusável, o que toda fêmea deseja ouvir susurrado ao pé do ouvido acompanhado de um arrepio dos bons na espinha: “Let’s stay together / Loving you wheather, wheather times are good or bad, and I’m happy or sad...” Você fraqueja. Você desiste. Você joga a toalha. Você se entrega a todas as notas, timbre, tom, entonação, ritmo, letra, melodia... Falta algo mais? Sim, as lágrimas. Mais um gole no vinho e você debulha-se em pranto. Agarra a almofada e recolhe as pernas contra o peito como a se envolver em um grande abraço e chora. Chora feito criança. O choro daqueles que um dia amaram pra valer, você me entende?

Chora o lamento do que não existe mais. Chora o amor que morreu. Chora por não ter podido se despedir com delicadeza. Por ter sobrado mágoa. Por já não restar sequer uma pontinha de carinho. Chora inclusive, por saber que logo irá superar essa tristeza e que o tempo fará a memória perder o seu frescor e você já não conseguirá lembrar como era mesmo tudo aquilo que sentiu um dia. E que inacreditavelmente, por alguns momentos, foi bom. Pois então, chore! Chore toda a sua dor. Chore como se não fosse aguentar. Debulhe-se até a última lágrima secar. Chore, pois você precisa.






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